Por Diego “Hominis” Albuquerque
Thiago Gadelha é músico de Olinda, Pernambuco. Pela alcunha de Wolf Gadelha, seu pseudônimo, e em parceria com Alberto Monteiro (O Rasta), ele está lançando Coronal Heating Problem, seu novo álbum com 7 faixas de pura psicodelia. Coronal Heating Problem, ou “Problema da Coroa Solar” é como é chamado o mistério que é o motivo pelo qual a coroa solar revela temperaturas muito mais altas do que a própria superfície do Sol.
O álbum quente foi produzido e gravado nos últimos 7 anos, que remete ao período em que Thiago tinha uma banda com amigos chamada Casillero, com quem lançou o álbum Dark Swing em 2016. “E assim que lançamos eu comecei a escrever algumas ideias para o que seria a continuação do Dark Swing”, comenta o artista. Nesse meio tempo, aconteceu o que acontece com quase todo músico brasileiro várias vezes na vida, a banda acabou. Como Thiago já tinha começado alguns esboços, ele não quis abandonar a ideia. “Eu já conhecia o Rasta (Alberto Monteiro), e sabia que era um músico muito talentoso, então arrisquei fazer o convite para mostrar esses esboços, o ano era ainda 2016 e pelo motivo que talvez apenas ele saiba, ele se juntou a mim para fazer este disco”, explica Thiago.
Começou então aquele processo a quatro mãos e vários instrumentos, com trocas de sugestões e ideias entre ambos. Em 2019, Alberto Monteiro (O Rasta), gravou as baterias no Estúdio Pólvora no Recife. No meio do processo da gravação dos outros instrumentos, aconteceu a pandemia mundial do Covic-19, que pausou o projeto.
O disco Coronal Heating Problem só foi concluído em dezembro de 2023. O álbum conta com a participação do músico olindense Gilú Amaral nas percussões de “Gigantic Sun”. A capa é do artista recifense Athayde e a diagramação foi da designer olindense Luana Allycia. Ao longo das 7 faixas, o álbum apresenta elementos de funk, rock progressivo, psicodelia, afrolatinidades, em faixas bem pensadas e maturadas para aquecer o coração e as mentes dos ouvintes.
Resolvi fazer umas perguntas para Thiago e Alberto sobre o álbum, que convido para ouvir no seu streaming preferido enquanto lê o papo.
Como a música entrou na sua vida ou porque você entrou na música?
Thiago Gadelha – Não sei dizer, desde sempre teve muita música na minha família, apesar de não ter ninguém profissional, todos amam música. Meu avô, meu pai, meu tio, todos tocam violão, e sempre foi assim.
Alberto Monteiro – A música sempre foi um elemento presente no lugar onde nasci e cresci (Bairro de Caixa d’água em Olinda-PE) o povo daquele lugar sempre foi muito movido pela música. O pedreiro fazia seu trabalho ao som de alguma coisa, as atividades domésticas sempre eram regadas e movidas pela música, era raro um momento de silêncio retratado pela ausência de música. Desde muito cedo, também, tive um contato mais “prático” com a música enquanto frequentava igrejas nas redondezas. Primeiro observando muito as bandas que se apresentavam, até um dia ter a oportunidade de me aproximar mais dos músicos, trocar ideias e tocar, de fato. Apesar de iniciar no gospel, sempre tive uma abertura para ouvir de tudo um pouco, isso me fez conhecer outros estilos, formas de tocar e de conceber a música.
Quão Olinda é o Corona Heating Problem e de onde veio o nome do álbum (não o que significa, mas porque usar ele)?
Thiago Gadelha – O sol que eu passei a vida admirando é o sol visto de Olinda, no entanto não vejo Olinda no Coronal Heating Problem, a Olinda presente neste disco (para mim) é por tabela, indiretamente porque foi feito por Olindenses, em alguma medida isso tá ai, não sei a medida e não identifico isso, mas enxergo assim. Acho que as relações interpessoais tem um tanto de Coronal Heating Problem na forma como muitas vezes se apresenta. Às vezes a proximidade baixa a temperatura. Mas a falta de resposta para tal problema e o fascínio que isso me causa é o motivo principal pelo qual esse nome foi escolhido. O óbvio é uma rasteira, esperar isso logo do Sol. “After a certain distance the sun starts to burn more those who are close than those who are closer.” (02 Gigantic Sun).
Como você descreveria o som da sua música para alguém que nunca a ouviu antes?
Thiago Gadelha – Eu diria que esse disco tem muito de rock progressivo.
Alberto Monteiro – Falando do Coronal, a som é uma mistura interessante do rock com influências da música negra americana representada muito pelo funk, soul e pitadas de algo mais moderno que não sei bem “encaixar numa casinha dos conceitos”.

Quais são suas principais influências musicais do álbum?
Thiago Gadelha – Acho que não consigo eleger por grau de importância, mas posso citar o que sei que está presente pois posso colar da playlist de referências que foi se atualizando até a conclusão do repertório. O primeiro artista da playlist é o Mark Lanegan, o último é Serge Gainsbourg. Daí tem Mobb Deep, Alice in Chains, Chuck and Mac, Prince, Night Lovell, Ned Doheny…e não para tão cedo.
Alberto Monteiro – Primeiro o disco do próprio Gadelha com a Casillero: Dark Swing que foi uma referência desde sua existência. A partir daí posso afirmar influências diversas, tais como, Kirk Franklin, Daft Punk, Dimas Pradipta, Ned Doheny, Vulfpeck, Funk Factory, Renaldo Domino, Prince, Leisure, James Blake… enfim… !
Quais são algumas das mensagens ou temas que você tenta transmitir através de suas letras?
Thiago Gadelha – Não pensei nisso, acho que não tenho. As músicas e letras vão acontecendo sem esse objetivo.
Quais instrumentos você geralmente incorpora em suas músicas e por que escolheu esses em particular?
Thiago Gadelha – Eu sou guitarrista, então essa será geralmente minha primeira opção. Esse disco é um disco de rock e a instrumentação foi pensada dessa forma: guitarra, baixo, bateria, teclas.
Quais são suas pretensões com este trabalho?
Thiago Gadelha – Fechar um ciclo e partir para outra.
Alberto Monteiro – Lançar! já era uma missão que custou muito, devido ao período pandêmico, mas fazer com que ele chegue, enfim, ao mundo e que possamos levar essa música pra outros países, principalmente.
Depois de 7 anos produzindo, teve alguma coisa que você queria ter feito nesse álbum que não fez?
Thiago Gadelha – Tem duas coisas que não foram feitas e que inicialmente era a ideia. A primeira é lançar o mesmo disco em uma versão instrumental, junto. Não rolará; E a segunda é o uso de vocoders em duas faixas, incluindo a 06 Tidal disruption, um lance meio “I thought it was you” do Herbie Hancock, hahahaha; Também acabou que não aconteceu.
Alberto Monteiro – Como todos sabem, um produtor e/ou músico geralmente tem um nível de perfeccionismo muito elevado. Isso nos faz ouvir coisas diferentes a cada play executado, então sempre haverá detalhes a corrigir, trechos que se pensa fazer com mais leveza ou de outra forma. Julgo ser natural!






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