Foto: Bruna Garrido

No dia 02 de maio Sandro Azevedo lançou O Jardim Secreto de Stéhpan Dehmía, seu disco de estreia, nas plataformas digitais. Um disco que tem cheiro de rock com MPB permeado pela poesia potiguar, seridoense mais precisamente, com parcerias que trazem uma nova velha roupagem à música potiguar atual. Zé Fontes, Ricardo Baya, Bruno Lucas, Jane Eyre Pedro e Humberto Luis no instrumental. E com as participações de Sérgio Farias, Airton Guimarães, Gilberto Cabral, Júlio Lima e Ciro Figueiredo.

Isso porque o que vimos e ouvimos com frequência é uma juventude que envereda pelo eletrônico, por mais que o cenário potiguar seja prolífico em bandas, artistas e estilos. Se o rap e o eletrônico ganharam mais força nos últimos anos, ainda temos uma bela leva de artistas de rock e MPB. E samba. Quem acompanha nosso podcast viu entrevistas com Clara, Dani Cruz, Ângela Castro e Toni.

Sandro Azevedo, natural de Caicó, está em contato com a música desde a adolescência. Inclusive com participações em concursos musicais. Professor da UFRN, criou o Coral Sertão Encanto, foi Tenor do Madrigal da UFRN e o Grupo Vocal Acorde.

Em meio a pandemia o professor Sandro, trancado como todos nós, resolveu soltar suas criações e o EP foi criado. No dia 17 de maio Sandro Azevedo deu vida a O Jardim Secreto de Stéhpan Dehmía na Escola de Música da UFRN. Não foi um lançamento qualquer, foi um espetáculo como pode ser visto no vídeo abaixo.

E após o vídeo, tem o papo que batemos onde ele conta um pouco de como foi esse processo e seus parceiros. Se você gosta de rock e MPB vai gostar do disco.

O Inimigo – Começo perguntando porque tanto tempo pra lançar um disco. Você já tem ligação direta com a música, e composição, há 40 anos.

Sandro Azevedo – A música foi, para mim, desde meus 16 anos, uma namorada com quem não tinha coragem de casar, embora mantivesse com ela um laço indissolúvel. Mas, efetivamente, nunca fui um profissional da música. Sempre foi um hobby. E, por isso, atuei em corais (Sertão Encanto, em Caicó; Madrigal, na UFRN; e no Grupo Vocal Acorde), além de participar do Projeto Pau e Lata. Na pandemia, essa relação se tornou a razão da sobrevivência de uma parte de minha sanidade e de alimentação das relações com meus amigos e amigas, enquanto estávamos compulsoriamente distanciados. Nesse período, o exercício de composição foi inesperadamente muito forte. Embora eu tenha trabalhado muito (sou professor da UFRN), com atividades remotas intensas e periódicas, o compromisso com a atividade musical foi se fazendo parte de minha rotina. Inicialmente, as músicas foram encaminhadas aos amigos e amigas pelo whatsapp, na forma de “presentinhos” – como eu as denominava. A intenção, portanto, era, tão somente, manter laços de uma forma bem particular. Depois, comecei a pensar que essas músicas poderiam, eventualmente, ser encaminhadas para artistas locais, para que eles/elas gravassem. Mas, como elas ganharam corpo e as ideias de arranjo me pareciam muito caras para serem desprezadas, entendi que eu deveria gravá-las.

Uma das parceiras foi minha professora, Josimey Costa. Como foi o trabalho com esses parceiros de letras? Foi também durante a pandemia com trocas?

Basicamente durante a pandemia eu costumava fazer o seguinte: em forma de responder esse ímpeto criativo, eu abria um livro de um amigo, poeta próximo como Josimey Costa, João Andrade, Camilo Rosa, meio que aleatoriamente. E o que me tocasse, me mobilizasse o impulso criativo eu dava vazão e musicava. Uma vez musicado eu enviava para eles usarem e perguntava o que tinham achado, se eu podia usar o material. Diante de uma resposta positiva eu continuava e fechava o material. Mas é bom lembrar que a maioria dessas músicas são próprias, algumas com letras deles, mas a maioria composições próprias.

A intenção desde o começo foi lançar um EP?

Na verdade, queria lançar um álbum, mas, como não obtive patrocínio, nem recursos dos editais de cultura, me limitei ao EP. Ao mesmo tempo, penso que lançar o EP antes de um álbum é uma boa estratégia para sentir a receptividade do público e dimensionar o que está (ou não) funcionando, no contexto da proposta que apresentei.

Isso. Nesses tempos de lançamentos massivos de singles, um EP é uma boa. E como foi a receptividade do show de lançamento na EMUFRN?

Puxa… Foi muito boa. O prof. Artemilson Lima, que tem pesquisa no campo da cultura local e integra o grupo Gato Lúdico, escreveu uma boa crítica. O que mais escutei ou li foi que não foi apenas um show musical, mas um “espetáculo”, junto com a palavra “surpresa”. Isso tem a ver com o fato de que nunca me viram em cima de um palco, protagonizando a coisa toda, ainda mais com músicas autorais. O objetivo era este mesmo: desvelar o jardim que até então era secreto. (risos) E surpreender com ele.

Quais os próximos passos? Temos festivais aqui na cidade que aparentemente não são a cara da sonoridade do disco. Você pretende levar esse show pra outros palcos?

Por um lado, insistirei na inclusão do projeto em editais de cultura. Ainda são as principais oportunidades para quem, como eu, é “internacionalmente desconhecido”. (risos) Por outro lado, penso que hei de teimar em furar bolhas, fazendo a circulação do trabalho (mesmo que em um formato com menos produção e com menos músicos), sem perder a qualidade do conceito. A esperança é que o pessoal que trabalha com produção na cena musical local possa se interessar em incluir esse trabalho em suas iniciativas. Abrir-se e ampliar os espaços, em uma cena como a de nossa cidade (e estado) ainda é a melhor forma de todos se projetarem. As experiências em várias partes do país têm mostrado isso.

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