Não sei precisar o ano, creio que foi em 2016. ÓperaLóki se apresentou na beira da praia de Ponta Negra numa sexta à tarde. Cenário melhor impossível: uma mistura de trabalhadores, apreciadores da banda e turistas. De cara, ao ver Arthur Costa-Pedro tocando e cantando ficou claro o potencial que ele tinha.

Passados oito anos daquele show, dez do lançamento do disco Infancya, Sonhos e Amores, as músicas ainda soam da mesma maneira por serem atemporais. Músicas falando de amor, sobre os dias, de forma direta que atende a qualquer ouvinte. Carregadas de saudade e em “Pai”, uma amostra do que Arthur é: um viajante.

O modo de construção das músicas, indo além das letras, também merece destaque já que não é rock, não é pop, não é mpb. É uma mistura de tudo tal qual a cabeça de Arthur.  Arthur Costa-Pedro, Cândido Cosmos, Walter Nazário e Daniel Moraes gravaram o disco. Ao vivo a formação era outra e a que me chamou atenção tinha dois Bonnies integrando: Olavo e Rafael “Delega”. Baixo e bateria, respectivamente. O entrosamento dos dois de longa data deve ter sido o motivo do meu agrado.

Fato é que dali em diante sempre se esperou uma sequência, dado o sucesso que o disco alcançou. A banda começou a tocar com frequência e os shows sempre eram uma incógnita. Tal qual eram os da já citada Bonnies, em que tudo podia acontecer. Inclusive, vejo semelhanças entre Arthur Costa-Pedro e Arthur Rosa (Os Bonnies). A própria construção das músicas de forma simples, porém eficientes, envolventes, as torna próximas.

Arthur, de volta a Natal, mandou umas palavras sobre o disco e a época da gravação. E fez um faixa a faixa, 10 anos depois, que é um bom momento para rever tudo com a distância que a experiência dá.

“Estou nesse momento me debruçando sobre, dentro dos porões de minha memória, às lembranças que me levam de volta ao mês de agosto de 2014. Por vezes alguns anos antes, mas esta data tem mais importância, pois é tudo sobre os 10 anos de “Infancya, sonhos e amores”, primeiro e único álbum gravado com a Operaloki”, começa Arthur Costra-Pedro, e continua: “talvez exista algum exagero no que direi agora, mas não deixa de ser uma sensação que me atravessa sinceramente, quero dizer, tudo de maravilhoso e belo e inesquecível que me aconteceu até hoje, em algum nível, intenso ou mais sutil, é uma reverberação das coisas que essas músicas causaram quando vieram ao mundo.

E completa: “como se não bastasse a densidade dramática dessa substância toda, ainda pudemos no que diz respeito a importância do tempo para o amadurecimento das criações, oferecer o fato de que o disco foi gravado em uma semana apenas, feliz paradoxo para o que chamei lo-fi das circunstâncias. As vezes penso como seria passar meses gravando aquele álbum, mas eu seria privado de acordar com a visão do meu amigo gravando os solos mais lindos que já ouvi, às 7 da manhã, depois de entrar madrugada a dentro na companhia de um Jack Daniels. Deixaria de assistir também os tambores de abismal serem gravados, mas disso jamais abriria mão. Em 7 dias criamos algo que faria diferente a minha vida pelos próximos 10 anos, eu seria capaz de apostar tudo sem saber de nada que aconteceria a partir de então. Sinto muito orgulho daqueles dias. Graças a esse trabalho deixei de viver tantos amores platônicos, parei de ter dificuldade em achar gente pra tocar comigo, toquei em lugares maravilhosos e fumei em rodas ilustres, até cerveja com Mac DeMarco eu tomei na terra de Copacabana, fui atrás do navio pirata com Sorin, lateral da seleção Argentina, no carnaval de Salvador e cantei em rodas de samba com os mais promissores da nova geração. Essas e muitas outras histórias não existiriam sem Infancya, sonhos e amores”.

Infância, Sonhos e Amores: faixa a faixa

Boa Sorte Com o Novo Par/Resenha/Ensaio Sobre a Solidão

Já estava escrevendo coisas de amor desde a mais tenra infância e cantarolando melodias que me ocorriam feito brisas, mas foi uma paixão platônica por Laura da faculdade de comunicação que  me levou a escrever “Resenha”, “Ensaio Sobre a Solidão” e “Boa Sorte Com o Novo Par”, logo ali nos primeiros anos de UF. “Boa Sorte Com o Novo Par” na verdade tem duas musas, além de Laura teve Maria Helena, um amor criado ainda criança em Currais Novos e vivido somente alguns anos depois num carnaval de Caicó. Nos primeiros anos de faculdade eu também procurava muito pela cidade, essa capital na qual havia recém chegado, outros músicos pra tocar essas histórias comigo, porém era difícil, aparentemente ninguém queria fazer som com um desconhecido sem vergonha que convidava qualquer um, por isso mesmo eu desconfiei quando Walter Nazário se ofereceu pra produzir nosso disco. Primeiro porque eu não sabia quem era Walter, muito menos quem viria a ser, digo isso enquanto admirador maior de sua música, segundo porque era muito importante pra mim aquilo tudo e tinha receio de entregar pra qualquer um, ledo engano. Walter também não me conhecia, foi mero acaso ou se a modéstia a  parte me permite, fruto do deslumbre causado pela história de uma carona um tanto sinistra da qual escapei, a caminho de Salvador saindo de Aracaju e que na volta virou aventura pra ser contada em toda sorte de lugares, pra todo mundo que se interessou e quis ouvir. Um desses momentos foi na Vila de Ponta Negra, na casa de Pedras, Walter tava lá e ouviu como eu escapei da morte cantando. Acho que isso foi suficiente pra ele se interessar pela minha música, mas como não seria?

27 de Julho/She Needs Him/Serenata

Pra completar a tríade do título, canto sobre amor íntimo em “27 de julho” e “Serenata”, em “She Needs Him” (minha preferida entre todas). Verso em inglês sobre um professor de inglês e sua namorada que moravam no kitnet ao lado do meu. Foram vizinhos ligeiros, mas me agraciaram com a substância lírica que deu nessa obra de arte, muito em virtude também das mãos de um Ítalo Bruno, vulgo Chaves, autor dos solos de guitarra e linhas de baixo nessa faixa.

Stop pare Lucy

“Stop pare Lucy” foi escrita no caminho do setor 2 até o R.U. (restaurante universitário) numa sexta-feira de feijoada e brinca com a dieta de uma bela Pitbull que homenageia Lucy Parsons, uma notória anarquista afro americana.

Pai

“Pai” é uma música menos alegre do que eu gostaria de ter feito vindo de onde ela vem, mas não é menos bela, olhar pra ela hoje é legal pois deu tempo da ferida se curar.

Astronauta Só

Ainda na seara das profundezas daquele meu ser está “Astronauta Só”, predileta de alguns, porém esquecida por mim com o passar do tempo, talvez por conta da melancolia a mais que passou a me angustiar por vezes.

Ouça Infâncya, Sonhos e Amores no YouTube:

Uma resposta para “Discografia Potiguar: ÓperaLóki – Infancya, Sonhos e Amores”.

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