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Se você é natalense e não foi assaltado nenhuma vez por um trecho de “Amor por Telepatia”, de Cami Santiz, talvez você não esteja 100% inteirado dos virais da cidade. A música original de estreia da artista potiguar é uma versão de Kali Uchis cheia de gingado latino e nordestino, mixando o batidão melody com o tempero colombiano, sem deixar de lado a intimidade, a propriedade na assimilação que uma cantora faz da música original de outra. Em tempos de remix, mashup e spin-off, nada mais justo que abarcar as ofertas do mundo pop e fazer sua própria versão, passando pelo filtro local sem medo de marcar território.
Em duas faces da própria faixa, inclusive, Cami Santiz passa por uma versão mais suave e pela versão piseiro, indo da praia às pistas sem deixar o balanço parar. A seguir, conversamos com Cami sobre esses e outros lançamentos:
Revista O Inimigo: Amor por Telepatia é seu primeiro lançamento, mas você já canta há um tempo, não é? Conte aí qual sua trajetória até chegar a esse primeiro single.
Cami Santiz: Então, tudo começou de forma despretensiosa. A internet foi a forma que encontrei de enfrentar a timidez com a música (literalmente). Sempre amei cantar e era curiosa com instrumentos mas, apesar de me considerar uma pessoa extrovertida, me dava pavor de cantar na frente de alguém. Achei terrível eu não poder enfrentar este medo por anos, e decidi que em 2023 ia mudar isso. E já que ao vivo era difícil, que tal dar o primeiro passo digitalmente? Postei um cover no Instagram de “Água de Beber”, de Tom Jobim, e de tanto nervosismo tive logo vontade de apagar! Mas, pra minha surpresa comecei a receber muitos comentários positivos, que me deram aquele pingo de esperança de que eu não cantava tão mal (risos). É aquela coisa, penso que a autoestima (musical) também se constrói aos poucos. E assim era pra mim. Mais tarde, encontrei VZL Swami, meu atual produtor musical e beatmaker, que quando me viu cantar e disse “essa voz não é pra se esconder, tem que ir pro mundo”, e super me incentivou a me desenvolver! O convidei para participar do meu segundo cover, “Ando meio desligado” de Rita Lee. Postamos, e nossa versão teve uma repercussão que me assustou muito, foram mais de 20 mil likes em um dia só. Depois disso entendi que compartilhar arte era melhor que esconder! E foi por causa desse vídeo que a banda Plutão Já foi Planeta me chamou para participar no show de sua turnê por Natal, só que eu nunca tinha nem pisado num palco na vida, quanto mais cantar pra uma platéia… socorro! Agora não dava mais pra fugir e fazer desfeita com um convite desse, era hora de enfrentar meu maior medo: cantar ao vivo! Ensaiei duas músicas incansavelmente, descobri ali que eu tinha ansiedade de palco e que ela ia me acompanhar, apesar de estar a mil, pensei “tá com medo? vai com medo mesmo!”. No dia do show, a banda falou “todo mundo tem uma primeira vez, e hoje é a primeira vez no palco da Cami”, o público me acolheu de forma incrível, a banda foi muito generosa comigo e enfim, eu senti que realmente gostava daquilo. Foi uma experiência inesquecível. Daí pra frente vieram mais covers, veio o convite para participar do Festival DoSol, enfim, tudo foi acontecendo e eu quis lançar minha primeira música. E já que vim dos covers, decidi começar por um caminho de abrasileirar uma música da Kali Uchis que gosto muito, “Telepatia”, e daí surgiu “Amor por Telepatia” e toda essa repercussão massa que o single teve. Por trás do medo, tem um arco-íris de possibilidades te esperando.
O seu projeto inicial com uma série de covers em vídeo, você cantando do seu modo particular, mas sempre fiel à canção do artista que você tá replicando. Nesse primeiro lançamento, você resolveu se lançar numa versão direta, uma tradução e uma forma sua de interpretar o artista. Como é esse processo de usar a influência enquanto você dirige sua própria linguagem?
Foi uma mistura de tradução direta com um quê autoral no refrão, muito divertido de se criar. Já que venho dos covers, eu quis checar se quem curtiu meu trabalho, também ia ser receptivo com algo mais ousado, modificando mais o ritmo, trazendo um conteúdo audiovisual mais elaborado no Youtube e se eu conseguia também levar esse público para outras plataformas de stream, e não somente consumir o que posto no instagram. E deu certo, porque com essa tomata de atitude acabou também ampliando o meu público. Pra mim isso é um bom sinal e abre caminhos para começar a revelar o meu lado autoral que venho trazendo nos meus shows.
E os próximos passos? Que que os espectadores e ouvintes podem esperar do projeto de Cami Santiz?
No futuro, vou apresentar de forma completa as minhas músicas autorais. E uma delas sai em breve! Fui aprovada na Lei Paulo Gustavo e vou aproveitar esse momento para lançar o meu novo single “Gloss”. Denominei o gênero dessa faixa como afrovogue, uma mistura entre o afrobeats (Nota do repórter: afrobeat não é o gênero criado e difundido pelo nigeriano Fela Kuti, mas um gênero nascido de cruzamentos do dancehall com ritmos africanos) com pop que traz o universo vogue (Nota do repórter: o vogue pode ser definido como elemento central da cultura ballroom, nascida nos Estados Unidos entre os anos 80, marcado por um estilo próprio de dança e expressão corporal difundidos pelas culturas gays urbanas). “Gloss” marca a minha primeira produção musical em parceria com VZL Swami e já tocou inclusive na Rádio Universitária de Natal pela programação do DoSol, dando o gostinho do que vem por aí. Enfim, irei agarrar essa oportunidade para mostrar, mais uma vez, minhas facetas tanto como diretora/videomaker, quanto como cantora/compositora/produtora, unindo minhas duas paixões para comunicar ideias: a música e o audiovisual.






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