Muito bom ouvir um som novo e gostar de cara, ainda mais quando o som foge do que eu normalmente ouço. É o caso de Rio de Ossos: dualidade matéria morta / espírito vivo. A sonoridade atende por Drone. Que muito além das máquinas voadoras que servem a vários objetivos, é uma forma de produção sonora a criar camadas contínuas e hipnóticas harmônicas.

No caso de Kangue e sua estreia, é uma sonoridade densa, pesada que remete a subgêneros ainda mais pesados do rock como Doom e Sludge. Mais lentos, arrastados. De uma forma geral não é do meu agrado, mas parece que com a idade a cabeça está se abrindo mais para esse tipo de sonoridade e Rio de Ossos: dualidade matéria morta / espírito vivo bateu.

Batemos um papo com Carlos Augusto Pitombeira, a.k.a Kangue, sobre o projeto. Ele também é responsável pelo vocal das bandas Deuszebul e FALSO e está a frente do selo Insulto Rex. Ouça Rio de Ossos após o papo.

Revista O Inimigo – Antes de mais nada, explique o que é Drone. Pro leigo aqui e pra quem for.

Kangue – Drone é um estilo de música caracterizado por ter um som contínuo e hipnótico. Daí esse som pode ser criado por instrumentos convencionais de corda e sopro ou utilização de elementos eletrônicos. A idéia é tentar criar um som hipnótico e meditativo com notas ou ruídos sustentando por algum tempo.

Rio de Ossos foi feito através de voz e pedais? Nenhum “instrumento” foi usado? Aí o processo é captar um som por vez e ir sobrepondo?

Isso mesmo. Quase tudo ali são vozes. Há apenas dois elementos que não são vozes. São ruídos que foram captados ou gerados por pedais. Nesse em especial foi feito assim, já que tinha a intenção de fazer um lançamento “melhor” acabado e construir cada camada em particular para depois finalizar com uma mixagem para valorizar alguns aspectos. Geralmente, costumo construir a composição de forma improvisada. Crio um tema principal, nisso vou adicionando cada elemento, repetições e efeitos. Fiz algumas lives na época da pandemia explorando a construção de algumas faixas, mas como as gravei em uma única track, alguns aspectos ficaram apagados e não se destacaram como deviam. Por isso tive a vontade de produzir essa em particular e tentar fazer soar dentro de uma forma mais elaborada.

Na pandemia rolaram, acho, que duas edições do 30 dias/30 beats. Foi dentro disso ou algum outro movimento ou só pra praticar em meio ao caos que estávamos?

Eu comecei na ideia de fugir do aperreio, tentando arrumar sentido pra vida, daí comecei a fazer umas lives e produzir umas doideras. Daí fui convidado a fazer uma apresentação numa fest online de música experimental chamado frestas telúricas e contava com uma galera muito foda do mundo da música experimental do Brasil inteiro.

Rio dos Ossos é um single duplo?

Rio de Ossos é a obra e tem várias partes. Não muitas, mais duas. “Dualidade matéria morta/espírito vivo” é um subtema. Rio de Ossos vai ser gerado com outros subtemas. Cada composição vai se enveredando com um estado de acesso meditativo. Essa primeira tem como tema aprender a desencarnar. Estado de meditação que leva à morte em vida. Aceitar que a carne é apenas receptáculo que limita a mente e espírito.

Cada parte tenta gerar uma sensação. O que pra alguns pode ser apenas ruído e incômodo, mas para outros gera uma sensação de imersão meditativa. Essa coisa da repetição de ruídos me traz essas sensações de calmaria, seja mantra ou um ruído oscilatório. “Rio de Ossos” nasceu nessa busca de acessar um estado de meditação.

A ideia do projeto é que seja constante. As outras faixas que estão sendo finalizadas e vão sair em breve. Algumas devem sair em colaboração com algumas outras mentes perturbadas. Logo logo tem mais ruídos.

E quem foi o responsável pela pós-gravação? Mixagem e tal?

Nessa faixa a pós produção ficou a cargo de Anízio Souza. Ele deu um tapa no negócio.

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