Foto: Hannah Carvalho / Divulgação No Ar Coquetel Molotov
O festival No Ar Coquetel Molotov chegou à sua 20a edição no último sábado sem parecer ter perdido a vivacidade de outrora: nomes novos e novíssimos, novidades de velhos conhecidos, apostas em formatos diferentes de nomes consagrados e muito bate estaca marcam mais essa edição numa abrasiva UFPE.
Nesse ano, os headliners Marcelo D2, Nina do Porte e Attooxxá jogaram com facilidade no palco principal. Destacando Marcelo D2, o rapper carioca trouxe seu IBORU, que é manifesto lírico pelo samba carioca, com roda no palco e tudo, ocupação estética e revisão da própria carreira atendendo ao chamado dos pandeiros e cavaquinhos, e enfileirou hits novos e antigos de sua carreira. A aproximação de D2 com o samba é perene e parece que dessa vez algo conectou de modo muito mais coeso e finalizado, de modo que sua pose de Bezerra da Silva nunca foi tão bem sustentada.
Nina do Porte tocou numa chuvarada que não dispersou seu público, enquanto o Attooxxá trouxe sua micareta fora de época em grande carnaval (sigo relatos do público, o repórter não atravessou nem a chuva nem o horário já adiantado pra ver nenhum dos dois, infelizmente). FBC também foi um dos headliners e levou o público por sua nave baladeira, ainda que sem banda completa como tem feito em São Paulo e Belo Horizonte, e enfrentou percalços com o som (e impôs alguns percalços aos ouvidos mais sensíveis – certas desafinações podem ser dirimidas nas próximas) mas conseguiu agitar seu baile.
Destaque importante também para o até então inédito no Nordeste show do Boogarins tocando Clube da Esquina, esmerada homenagem e exposição de próprias influências que os goianos empreendem num Brasil profundo & reiterativo, onde as coisas se conectam no intervalo de um acorde e outro, ou na escolha de um suingue e outro (vide a forma como “Nada Será como Antes” vira uma versão de “Alter Ego”, do Tame Impala).
Com a curadoria dirigida para a inclusão, com mais mulheres, negros, indígenas, LGBTQIAPN+, os nomes mais importantes dessa edição corresponderam aos holofotes dirigidos para esses recortes: Brisa Flow, Bebé Salvego, Mateus Fazeno Rock, Irmãs de Pau, Deekapz, Tuyo, Luedji Luna e Afroito foram destaques.
Brisa Flow trouxe ao palco do Natura Musical seu futurismo indígena com arranjos eletrônicos combinados com sopros e violões; Bebé Salvego apresentou seu disco de 2021 pincelado com novas faixas que sairão no seu disco futuro e espalhou sua voz fortíssima pela concha acústica da UFPE; Mateus Fazeno Rock apresentou pela primeira vez fora de Fortaleza o seu coletivo cênico & experimental que ao vivo faz seu disco Jesus Ñ Voltará, lançado nesse ano, evoluir e ganhar mais cores; as Irmãs de Pau fizeram um verdadeiro ballroom do palco rotatório kamikaze, com presença massiva das cenas clubber e travesti de Recife; Deekapz, Tuyo e Luedji Luna, nomes já consagrados, apresentaram seus formatos ao vivo mais recentes e sustentaram suas reconhecidas forças performáticas, nomes já consagrados da nova música brasileira que tendem a elevar ainda mais o nível contemporâneo das produções no país; por fim, Afroito, nome pernambucano que desponta com hits em Recife e zona metropolitana, veio ao palco com backing vocals, violinos, banda completa e mostrou-se uma espécie de Prince de Pernambuco, sem vergonha de deixar à mostra o romantismo e o torso nu.
Outro nome pernambucano que merece menção é a banda de brega O Quartinho, que junto a Katarina Nápoles (vocalista da banda Guma) fizeram uma ocupação da estética brega pernambucana alinhada com o indie rock. Revival brega? Quem sabe.
No mais, a 20a edição do No Ar Coquetel Molotov serve como a exposição da diversidade da nova música brasileira, não só de tendências musicais mas também de novas figuras, novas formas de se apresentar no palco, novas formas de palco (vide o palco Kamikaze, em 360 graus, de onde o público ouve o som em qualidade de qualquer lado) e novos corpos, que trazem consigo o inesperado.






Deixe um comentário